Da Bienal de Arquitetura de Tbilisi à Trienal de Arquitetura de Sharjah, as exposições de arquitetura estão cada vez mais presentes nos calendários culturais do mundo contemporâneo. As novas edições aproveitam o caminho trilhado por mostras do passado — e essas exposições históricas moldaram o discurso arquitetônico que temos hoje. Porém, como nasceram de uma estrutura ocidental, há pouca representatividade africana na história dos palcos arquitetônicos das bienais e trienais, reduzindo uma variedade de culturas a apenas uma, com estilos arquitetônicos distintos reunidos de maneira incoerente.
À medida que o ornamento foi rejeitado e o estilo arquitetônico que veio a ser conhecido como modernismo se firmou no cânone, o ano de 1931 viu o que, sem dúvida, é o exemplo mais extremo de representatividade arquitetônica africana simplificada em uma exposição — a Exposição Colonial de Paris. Com duração de seis meses, foi uma tentativa de demonstrar a força da política colonial europeia, exibindo em pavilhões coloniais ambientes supostamente “autênticos” das colônias, além de povos indígenas e artefatos dos territórios coloniais.
Dentro dessa configuração, pavilhões de colônias “africanas” foram projetados por arquitetos da metrópole colonial, em uma mistura de estilos de arquitetura vernacular europeia e africana. A atual República Democrática do Congo, sob domínio belga na época, tinha um pavilhão projetado pelo arquiteto belga Henri Lacoste que era uma tentativa desorganizada de representar a “autenticidade” da colônia centro-africana. Tecidos Yombe, do povo homônimo, foram usados no piso de mosaico do pavilhão principal, mas o pavilhão também tinha motivos provenientes de pinturas rupestres da África do Sul e do atual Zimbábue, e outras referências a artefatos do Gabão e Costa do Marfim. Essas fontes de inspiração evidentemente não eram contextuais, mas escolhas estéticas feitas para inventar um estilo arquitetônico “congolês” para a exposição.
O pavilhão de Camarões-Togo na mesma exposição seguiu um padrão muito semelhante, com cabanas das colônias estilizadas por arquitetos franceses. Aqui, a arquitetura foi o pano de fundo para a experiência do visitante que passeou de barco em um lago próximo com a intenção de imitar a experiência de remar no rio Wouri, no sudoeste de Camarões. Os pavilhões — sendo o principal deles um grande salão de 500 metros quadrados e 28 metros de altura — apresentavam reproduções em cera de obras de arte indígenas, além de dioramas do pintor Joseph de La Nézière, que pintou cenas das colônias da França.
Vale ressaltar que a intenção era tentar ostensivamente apresentar uma versão “precisa” e “realista” da arquitetura de uma colônia africana, com base na busca pelo reforço da superioridade cultural das metrópoles sobre as colônias.
O campo da arte, adjacente à esfera arquitetônica, viu há pouco tempo os pavilhões africanos não terem a representatividade que merecem. Enquanto o pavilhão de Angola na Bienal de Veneza 2013 apresentou uma instalação do fotógrafo angolano Edson Chagas que acabou vencendo o prêmio Leão de Ouro, a exposição recebeu críticas à contribuição do Quênia, pois dos doze artistas convidados a participar, apenas dois eram quenianos. Os pavilhões quenianos nas bienais subsequentes corrigiram isso apresentando artistas e obras que melhor representaram a cena artística no país.
Mas os africanos buscaram abrir caminho nas exposições de arquitetura e derrubar os legados da representatividade africana unidimensional. Na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2021, o estúdio queniano Cave Bureau apresentou Obsidian Rain, uma seção da caverna Mbai no Quênia, usada em meados do século XX por combatentes da liberdade para planejar a resistência anticolonial. Algo assim não era sequer imaginado nas exposições de noventa anos atrás, e mostras como a Exposição do Império Britânico de 1924 e a Exposição Colonial de Paris teriam se esforçado para impedir uma exposição verdadeiramente representativa das colônias, especialmente uma que trouxesse a resistência anticolonial.
A 18ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, com curadoria da arquiteta ganesa-escocesa Lesley Lokko, se aproxima. Seu visão de considerar a África como um “laboratório do futuro” é oportuna, e profissionais, artistas e designers de todo o mundo buscam apresentar uma multiplicidade de perspectivas africanas, rejeitando pontos de vista impostos sobre o continente.